domingo, 19 de junho de 2016

O quanto uma pessoa aguenta sofrer?

Neste tempo de espera das 4 semanas para conseguir fazer o exame morfológico, tentava fazer o máximo de atividades possível para distrair a minha cabeça e o tempo passar. Estranho falar, mas neste período, a minha mente ficou tão inquieta que tinha dificuldade de concatenar os meus pensamentos para conseguir rezar. Aliás, esta ainda é uma dificuldade que continua, logicamente mais amenas, depois de 12 meses do ocorrido. Durante este período, fui informada que se quisesse fazer o acompanhamento em um ambulatório especializado em má formações fetais, teria que passar por uma consulta inicial, com o intuito de relatar o histórico da gestação para, só então conseguir fazer o exame morfológico com a equipe que eu desejava ser atendida. Como parecia ser uma consulta simples, somente para passar algumas informações para os médicos, optei por ir sozinha. Assim, fiz a viagem e fui a consulta. Ao relatar o ocorrido e os exames já realizados a médica parecia desconhecer alguns dos exames que eu tinha realizado. No final da consulta, falou que naquele dia mesmo, eu deveria fazer um ultrassom de rotina. Na hora que ela falou isso, por todos os medos que eu já tinha passado e também por estar sozinha, o meu coração parecia que iria sair pela boca. Mas ela falou que realmente eu precisava fazer. Então fui eu fazer o ultrassom e a indelicadeza do médico conseguiu superar todas as minhas expectativas. Começou olhando as imagens do ultrassom quando me fala que o meu filho não mexia as mãozinhas durante o exame e que aquilo era indício de uma síndrome muito grave. Ele falou sem nenhum cuidado de imaginar que por trás daquele exame tinha uma mãe aflita que só pedia a Deus que seu filho estivesse bem. Naquele momento comecei a pedir a Deus que meu filho mexesse a mãozinha naquele exame, mas infelizmente, não ocorreu. Ao sair da sala de exame, vivenciei uma cena que acredito que jamais será apagada da minha mente. Era uma sala de espera com aproximadamente cem cadeiras e que naquela hora da noite já estavam todas vazias. Não consigo imaginar um momento da minha vida em que tive tanto a sensação de solidão e desespero juntos, parecia que só existia no mundo eu e meu filho e a vontade imensa de desaparecer ou de ter a certeza de que aquilo só poderia ser um pesadelo. Naquela mesma hora, liguei para o meu marido e relatei o ocorrido. Não teria como retornar aquele dia para casa e em questão de minutos ele conseguiu por telefone um lugar para eu me hospedar. Dentro do hotel, eu só conseguia chorar, tentava encaixar as peças daquele pesadelo e pedir a Deus que não fizesse meu filho sofrer. Parecia mesmo que eu tinha chegado no limite da minha dor e que não aguentava mais tanto sofrimento.