terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Um segundo pode virar uma eternidade

Após o último ultrassom realizado, que nos deu uma pontinha de esperança em relação a saúde do nosso bebê, resolvemos fazer um exame genético a fim de ter a confirmação que a abertura da parede abdominal observada no ultrassom não estaria associada a nenhum tipo de síndrome genética. O exame consiste de uma técnica bastante moderna, utilizada no mundo todo, contudo infelizmente não acessível para a maior parte da população considerando o valor (cerca de quatro mil reais) e estar restrito somente a algumas cidades. O procedimento realizado é simples e consiste essencialmente em  retirar sangue materno, tal qual um exame de rotina, e mucosa do pai. O difícil mesmo é o tempo de espera. Foram quinze dias úteis de espera. Confesso que durante este tempo, não existia um minuto que pensava que aquele resultado poderia mudar de uma maneira drástica as nossas expectativas. Quanto mais os dias foram se aproximando, mais angústia sentia no meu coração. Neste período já conseguia sentir os primeiros movimentos do meu bebê e aquilo me deu um sentimento de ligação com ele ainda maior. Me recordo claramente que no dia que sairia o resultado do exame, o tempo de espera era nosso maior pesadelo. Senti uma enxaqueca muito forte de tão nervosa que estava, também não conseguia comer e sequer pensar em outra coisa. Logo pela manhã, no horário de abertura da clínica, liguei para verificar o resultado. A atendente me informou que o resultado do exame já tinha chegado dos EUA, onde são realizados a maior parte deste exame, mas ainda não tinha sido completada a tradução para ser enviada para nós. Quando faltava 30 minutos para o fechamento da clínica, às 16:30 liguei novamente para a clínica, implorando para a atendente que ela me liberasse o exame aquele dia, pois não conseguiria dormir nenhuma noite a mais com aquela angústia absurda no peito. Exatamente às 16:55 recebo a notificação no meu email que o exame tinha chegado. Antes de conseguir ler o resultado, o meu marido liga e diz que conseguiu ver o resultado do exame no email dele e que tinha vindo normal. Isso significava para nós que um exame genético extremamente detalhado tinha indicado que nosso bebê não tinha nenhuma síndrome associada com a abertura da parede abdominal observada no ultrassom. Em termos de sobrevida, sugeria que nosso bebê era plenamente viável e teria chance de corrigir esta abertura assim que nascesse. Naquele momento, eu não conseguia racionar mais nada, só agradecia a Deus a possibilidade de ser mãe, imaginando que sim, seria possível que nosso bebê tivesse grandes chances de sobreviver, ainda mais nascendo em um hospital que era centro de referência neste tipo de atendimento. Além do mais, o exame indicava que meu pequeno era menino, ou seja, meu sonho de ser mãe de um menino estava a cada dia mais próximo,  ou pelo menos era isso que imaginávamos na nossa cabeça. Assim, neste instante sabíamos que um segundo realmente pode virar uma eternidade, mas não esperávamos que toda esta eternidade seria modificada em breve.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Céu azul após a tempestade

Diante do desespero causado pelos exames anteriores, optamos por marcar mais um exame, agora em uma instituição especializada em má formação fetal. Assim, logo um dia após daquele exame, estava eu novamente em um ônibus rumo à cidade na qual faria este acompanhamento mais especializado. Por um lado, tinha que agradecer o fato de ter conseguido este novo exame tão rapidamente, pois, em menos de 24 horas, em função da ajuda de inúmeros amigos, foi possível fazer esta marcação. 
Por outro lado, tinha consciência de que poderia definitivamente confirmar que não estava nada bem com meu pequenino amor. Me recordo que, dentro daquele ônibus na qual a viagem duraria cerca de quatro horas, sentia essencialmente medo. Medo do futuro, medo das notícias e medo de perder meu bebê. Continuava não conseguindo rezar, tamanho era o medo que rondava a minha mente. Ficava pensando como tudo na vida poderia ser transformado em questão de horas. 
Ao entrar no hospital para fazer novo exame, agora com os maiores especialistas do nosso país na área, meu coração estava tão acelerado e minha boca tão seca que mal consegui disfarçar a minha feição para os médicos. Falei um boa tarde tímido e deitei para iniciar o exame. Eram cerca de dez médicos na sala, todos olhando para as imagens do meu bebê no monitor, era um olhar tão atento que eu não conseguia decifrar o que queriam dizer. 
No final do exame, ainda todo mundo em silêncio, os médicos me pedem o exame que fiz no dia anterior para analisar. Após alguns minutos, mas que para mim e para meu marido pareciam eternidades, os médicos me dizem que na visão deles o exame anterior estava incorreto e que, naquele momento, o que eles poderiam me dizer é que meu bebê tinha uma abertura de parede abdominal isolada, ou seja, nenhuma outra má formação associada. Isso para nós era um grande alívio pois, apesar de ser uma condição delicada, ainda sim era um bebê viável, principalmente estando em um centro especializado como aquele. 
Naquele momento, meu coração queria acreditar que tudo não tinha passado de um pesadelo e que haveria sim um céu azul após a tempestade.

sábado, 14 de novembro de 2015

Um dia difícil de esquecer

Chegou o dia da realização do outro ultrassom. Meu coração estava pequenininho, mas confesso que ainda queria acreditar que tudo não fosse um engano e que, na verdade, meu bebê não tinha nada. Meus pais foram comigo à clínica e aquilo me dava a real noção o quanto aquilo era sério. Filha de pais separados que sou, desde a infância, sei perfeitamente que eles se reunem somente nos momentos marcantes da vida, sejam eles de alegria ou de tristeza. Ao entrar no consultório, a médica fez questão de mostrar simpatia, mas o meu receio é que aquele comportamento fosse uma tentativa de disfarçar a apreensão que talvez ela estivesse sentindo, já que tinha acesso aos dados do ultrassom anterior do meu bebê. Ao começar o exame, era nítido o desconforto sentido por ela diante das imagens. Eis que ela diz para eu sentar junto com meus pais para falar a sua hipótese. Ela começou a falar que as alterações estruturais eram evidentes, indicativo de síndromes severas, que o bebê certamente iria à óbito intraútero e mais alguns detalhes dos achados do exame de imagem. Naquele instante, não sabia nem o que pensar. Só queria sair de lá, junto com o meu filho, e verificar que estava diante de um pesadelo. Liguei para o meu marido para falar o resultado do exame e depois disso não tinha mais condições de raciocionar nada. Ao chegar na casa da minha mãe, deitei na cama que tinha sido minha desde a infância, deitei e deixei as lágrimas escorrerem. Cada lágrima representava sofrimento, medo, desespero, impotência e incerteza quanto ao futuro. Não conseguia nem rezar tamanho era a confusão na minha mente. Ainda sim, pedia a Deus que estivesse comigo e com meu pequeno naquele dia difícil de esquecer.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O primeiro susto

Os dias iam passando aparentemente como qualquer outra gravidez, com os enjoos frequentes e muito sono. Ao mesmo tempo, o sentimento de se tornar mãe ficava a cada dia mais intenso. Era inevitável, ao longo do dia ou da noite, que me pegasse pensando ou fazendo planos em tudo o que estava por vir. Eis que chega o dia do segundo ultrassom no qual poderíamos ver de uma forma mais detalhada o nosso pequeno. No momento em que o exame iniciou aparentemente tudo ia bem, até o momento que a médica comentou que a parede abdominal ainda não tinha fechado. 
A minha pergunta imediata era se aquilo era normal. A médica disse que poderia ser, uma vez que o fechamento da parede abdominal poderia ocorrer até a décima segunda semana de gestação. Contudo, caso não houvesse o fechamento até este período, poderia ser indício de alguma má formação. De uma forma nada preparada para uma profissional da área médica, ela fala para mim e meu marido: "Sabe aqueles bebês que nascem com a barriga aberta? Então, caso não ocorra o fechamento até a décima segunda semana, seu bebê nascerá assim. Espere o próximo ultrassom para verificar a evolução". Naquele momento, não conseguia ouvir mais nada do que ela disse. Só consigo pensar o quão pouco aptos são alguns profissionais para lidar com o outro. Talvez ela não tenha e nunca terá a noção do impacto que aquela fala teve sobre nós. Infelizmente existem profissionais assim. Mal nós sabíamos que este não seria o único profissional com postura semelhante na nossa trajetória. 
Saímos da clínica meio atordoados com a notícia, mas ao mesmo tempo torcendo para que não fosse nada mais do que um atraso no desenvolvimento do nosso bebê. Chegando em casa, ao colocar na internet as características observadas no nosso bebê, o prognóstico não era nada promissor. Tentava manter a calma, mas de não podia ficar parada esperando o próximo ultrassom. Marquei um próximo exame, em outra cidade, com uma médica que era considerada muito boa, especialista na área. A espera de 5 dias foi de muita apreensão e receio. Em alguns momentos, confesso que me faltava o mínimo de concentração necessária para rezar, tamanha a minha aflição. Lembro que, ao entrar no avião em direção a outra cidade para realizar o exame, eu só pedia a Deus para que tudo não passasse de um susto. O fato é que a sequência de sustos estava só começando.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A melodia mais linda

Após a confirmação da gravidez, inicialmente compartilhamos a notícia somente com os avós, tias e tios de nosso pequeno bebê. Diante desta novidade, a alegria e ao mesmo tempo as expectativas eram enormes. Curioso pensar em como um serzinho, de poucos milímetros ainda, pode mobilizar tanto e arrebatar tantos corações de uma só vez. A partir deste momento, todos os meus atos deveriam ter em mente que eu estava gerando uma vida, dentro de mim, e que isso me trazia uma emoção e um amor que jamais imaginei sentir.
Nosso pequeno bebê tinha apenas 6 semanas e foi o momento de começar a marcar com o médico e solicitar os primeiros exames. Além dos exames de análises clínicas laboratorias de rotina, seria pedido o primeiro exame de imagem no qual poderíamos pela primeira vez "conhecer" nosso bebê. 
No momento do início do ultrassom, senti um misto de ansiedade e receio, para saber se estava tudo caminhando bem. Na hora em que finalmente conseguimos visualizar as primeiras imagens do nosso bebê, de apenas 4 milímetros ainda, a sensação que o mundo parou era inevitável. O barulho dos batimentos cardíacos dele era definitivamente a melodia mais linda que já tinha escutado na minha vida. Neste exato instante, uma lágrima que insistiu em surgir, no canto do meu olho, era somente a expressão do meu corpo de que se tornar mãe é uma experiência mágica, um milagre divino, impossível de descrever em palavras. Aquela lágrima era meu agradecimento a Deus de me possibilitar que, naquele momento, o meu sonho se concretizasse.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Como tudo começou ...

Nossa história começa como tantas outras de casais que planejam aumentar a família. Como sou uma pessoa bastante organizada e profissional da área da saúde, decidimos a data que seria melhor para ter um bebê, quais vitaminas precisariam ser tomadas antes mesmo da sua concepção e até fiz tabelas de período de menstruação e ovulação. Tudo meticulosamente planejado. Só me esqueci de um pequeno detalhe: nós fazemos nossos planos nesta vida, mas quem realmente determina se eles acontecerão ou não, é Ele. Mas isso eu só aprenderia depois.
Comecei a desconfiar que estava grávida, três dias antes da data prevista para a menstruação. Era num domingo, cerca de nove horas da noite quando insisti com o meu marido para irmos comprar estes testes de farmácia. Acho que ele nem deu muito crédito quando falei que acreditava que estava grávida pois só havíamos feito uma tentativa no período da minha ovulação. Mas meu coração me falava que eu estava gerando um bebê.
Segundos após fazer o xixi no potinho, apareceu uma segunda linha bem discreta no teste. Corri na internet para verificar se linhas discretas no teste indicavam gravidez e, sim indicavam. Não satisfeita com aquele teste, pedi ao meu marido para novamente irmos à farmácia para comprarmos outro teste. Isso já era quase onze horas da noite de um domingo e teríamos que trabalhar cedo no dia seguinte. E dessa vez a segunda linha do teste veio ainda mais forte, realmente confirmando que meu tão sonhado bebezinho estava ali, dentro de mim.
Diante disso, foi um misto de felicidade e de ansiedade de tudo de novo que estava por vir. Lembro que rezei naquela noite agradecendo por todo aquele momento mágico que estava vivendo, mas confesso que ainda receosa quando falava a oração do Pai Nosso naquele trecho "Que seja feita a Sua vontade". No meu íntimo, temia que a vontade de Deus em algum momento fosse diferente da minha.